Os dados sobre leptospirose em relação a capital Salvador historicamente não batem quando analisados os números da SMS e da Sesab. Em qualquer contagem, porém, o aumento de registros da doença é certo após o período chuvoso. Há ainda o agravante dos sintomas serem confundidos com os da dengue, uma vez que são comuns: febre e dores de cabeça e no corpo. “Devido à maior freqüência, a tendência é achar que é dengue”, observa a sanitarista Cristiane Cardoso, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da SMS. Na quinta-feira, o órgão promoveu uma sessão técnica visando esclarecer os profissionais de saúde sobre a possibilidade de crescimento do número de vítimas de leptospirose e seu diagnóstico. Cristine Cardoso explica que o principal modo de confirmar a doença é através de exame laboratorial. Quanto aos sintomas, o diferencial está nas dores na panturrilha (batata da perna), característica da leptospirose. “O médico deve investigar se a pessoa teve contato com água da chuva e lama e por quanto tempo”, acrescenta a coordenadora. BACTÉRIA – A leptospirose é transmitida pela bactéria leptospira, presente em ratos contaminados que a eliminam através da urina. A bactéria não faz mal aos roedores. Contudo, é lesiva aos seres humanos que têm contato com a água infectada e o contágio se dá através da pele. Quanto maior o tempo de exposição à água e a presença de feridas, maior a possibilidade de contrair a doença. Na sua forma simples o combate à bactéria é com antibióticos. Em sua forma grave, chamada de Síndrome de Weil, o paciente pode desenvolver insuficiência renal e respiratória e hemorragia pulmonar, com risco de óbito. “Nesses casos é preciso internamento em UTI e tratamento mais severo com antibióticos”, indica a sanitarista. Ela acrescenta que a forma grave da leptospirose atinge mais comumente homens adultos, e dificilmente crianças, que, por sua vez, são as vítimas mais freqüentes da dengue grave. DESIGUALDADE – Em Salvador, em 2008, foram notificados 129 casos de leptospirose e 11 óbitos, conforme a Sesab. Este ano houve 21 casos e uma vítima fatal, segundo a SMS. Salvador está entre as cinco cidades brasileiras com maior incidência da doença, ao lado de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, segundo Federico Costa, biólogo argentino e doutorando do Núcleo de Pesquisas de Leptospirose da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa, feita em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura e o Hospital Couto Maia, tem várias vertentes: análise de fatores socioambientais das comunidades em que há incidência, detecção de casos graves e melhores formas de tratamento, desenvolvimento de vacina e de um teste rápido. Este último espera-se que esteja no mercado no próximo ano. Ele permitirá o diagnóstico em 15 minutos. Atualmente, de acordo com Costa, a Fiocruz dá o resultado em três a cinco dias e o Laboratório Central (Lacen) em uma semana. Costa destaca que os fatores ambientais são o principal risco para a disseminação da doença. “As desigualdades socioambientais, com deficiências estruturais e falta de saneamento básico, favorecem a alta infestação”, ressalta o estudioso.
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